quarta-feira, 6 de maio de 2009

Memorial a um cara bebedor.

O cara bebia todas. Cachaça, cerveja, conhaque ordinário e vodca nacional. Não rejeitava líquido que incluísse o destilado. Água era como remédio ruim, fazia uma careta. Seu gosto pelas bebidas era um namoro antigo. Só nunca provara perfume, não chegava a tanto... Bebia porque era líquido. Fosse sólido, seria obeso. O cara era magro feito um defunto, e mais conservado que uma múmia. Apesar disso, tinha lá suas habilidades. Tinha jeito com os pincéis, por exemplo. Pintava belos quadros. Havia talento e futuro naquele rapaz, mas ninguém o reconhecia. Bebia para afogar a mágoa, por isso. Vivia trôpego a fluir álcool pelas veias. Faltava-lhe o vil metal, para variar. Não vendia um só quadro. Trocava-os por birita. Um admirador não afeiçoado à bebedeira às vezes pagava-lhe um copo. Quando estava naqueles dias, o cara fazia-lhe a maior festa ao encontrá-lo, e terminava ganhando dele uma dose. Mas em seu estado sóbrio, passava por ele calado, olhando de través e desconfiado.

18.04.09

2 comentários:

  1. Cristiano , li as suas postagens. Concentro os meus comentários apenas neste. Li enquanto sorvia um uisquinho . Gostei deles . Prossiga. O que tem para hoje ? Tem postagem minha no ar. Vai lá...Im abraço .

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  2. pow.
    tow na vodka nacional agora. foi ela que me pediu pra ler seu post (gostei muito)
    tenho um amigo parecido com esse do seu post.
    mas ele gosta de maconha...
    esse povo "tirado" a artista são verdadeiras esfíngies.
    mas eu nunca dou motivo pra eles me devorarem.
    apenas facilito pra eles acessarem suas vávulas de escape. até porque, precisamos deles!

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