terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Louca

Ela se achava louca. Mas de louca, não tinha absolutamente nada. Havia para tanto uma explicação: isto é o que em casa lhe diziam: você é maluca, sua louca. E foi assim que a pobre quase perdeu a razão. As palavras domésticas são as mais poderosas, capazes de tornar em gênio um idiota, ou quebrar a alma de um inocente. Ela era uma tristeza só, naquele ambiente insano. Não havia mulher mais doce e querendo acertar nas coisas do mundo do que ela. O sorriso era fácil como o de uma criança, por trás do olhar triste e angustiado. Uma mulher apagada. Um dia, ela se cansou daquilo tudo, muniu-se coragem, arrumou as trouxas e tomou um chá de sumiço. Sumiu como por encanto. Em casa, na falta de quem se tornasse o maluco da vez, passaram a culpar uns aos outros pela falta que fazia aquela louca. Longe daquela gente, ela descobriu a maravilha da vida ao reencontrar a sua sanidade. Nunca mais ouviu-se falar dela.

26.12.09

Um comentário:

  1. É assim mesmo... a loucura é relativa. Depende do ponto de vista. É como diz o velho ditado: "loucos são os outros."

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