quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Futuro a domicílio.

Acordou mal humorada. A boca azeda de esperma. Uma suave brisa entrava pela fina cortina da janela deixada aberta. Levantou-se. Esticou-se e foi no banheiro. Roupas pelo chão. Pontas de cigarro. Resíduos da noitada. Doía-lhe a buceta. Aquele puto. Sentia-se imunda. Jogou uma água no corpo. O sabonete novo foi esfregado até sumir. Não pensou na noite passada. Não quis isso. Recriminava-se. Tinha contas a pagar, lembrou. Devia a um, devia a outro. Quando isto vai acabar? A mão de xampu cheia fez abundante espuma no cabelo crespo. Gostava disso, dava-lhe prazer. Queria ser leve como a espuma. Flutuar. A água fria corria solta. Quis descer também pelo ralo e sumir de vez. Virou a torneira até estancar a água. Agora o dia já podia começar pra ser feliz. Enrolou-se na velha e macia toalha. Quando tomaria vergonha para comprar uma nova? Um café ia bem. No caminho da cozinha viu a grana jogada na mesa. Contou. O sangue subiu, só tinha a metade. Aquele desgraçado! Merda de vida. Vestiu-se rápido, foi encontrar o cliente das onze. Todo dia era a mesma coisa por troca de migalhas. Devia arranjar um emprego de verdade, um desses de carteira assinada com plano dentário, como todo mundo. A ruiva era cartomante a domicílio e já estava atrasada para prever o futuro.

23.01.09

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