quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Sem quebra gelo.

O silêncio era sepulcral. Numa mão, agulha, linha e artrose. Na outra, um retalho para ser remendado a outro. A luminária ao lado piscava vez por outra ou seriam já seus olhos? Sua respiração era suave, o olhar perdido e melancólico era solitário. Os pensamentos visitavam um tempo distante. As lembranças do passado eram recorrentes embora nem lembrasse que dia era hoje. Ela era jovem, então. Ele tinha quase a mesma idade, só um pouco mais velho e era o dono do mundo. Ardia de paixão incontrolável por ele. Ela era imatura, mimada. Deveras orgulhosa. Um dia ele disse-lhe uma coisa. Ela entendeu outra e não gostou. O mal entendido não foi desfeito. Ao contrário ficou como estava. Criou-se uma tensão que os separou silenciosamente. Nunca houve o pedido de desculpas, a retratação. Nenhum esforço de reconciliação. Apenas o silêncio reprimido e empáfia. Os dois se amavam, mas um esperava o outro quebrar o gelo. O tempo foi passando e no final só restaram dois velhos solitários. Ela ocupava seu tempo fazendo colchas de retalhos. E ele tentava lembrar as feições belas daquela jovem que tanto amou.

06.02.09

2 comentários:

  1. Li e encantei-me, com a beleza triste da cena que, de certa forma, fui lendo e "vizualizando".
    Fraterno abraço.

    ResponderExcluir
  2. Dormiram no ponto e deixaram o tempo passar. Se esqueceram de que o tempo não dá marcha-ré !

    ResponderExcluir

Obrigado por seu comentário! Comente sempre.